O pequeno barco permaneceu parado. O mar, imóvel como um asfalto, falava a calmaria. Seria pecado qualquer ruído ali. Antes disso, seria desnecessário. As águas ouviam, bem até demais. E assim nem peixes balançavam a rede, jogada inutilmente para servir de motivo para aquela silenciosa navegação. Porém necessária. Não era hora de pesca; mas final de tarde. Fim. O velho marinheiro olhava as mãos marcadas pelas redes da vida, algumas rasgadas, outras remendadas. Depois de vê-las, olhou para o céu. As cicatrizes se encaixavam com algumas nuvens, e o velho sentia isso quando levantava suas mãos. Ao fazer, sentia fachos de luz passar pelas palmas estendidas, e um brilho permanecia nelas. Talvez houvesse uma normalidade e serenidade no velho que só era vencida pela tranquilidade do mar – ou era só silêncio. E ele apertava as mãos como se pudesse agarrar a luz, embora ela passeasse por sua mão e voltasse aos céus.
A rede, a permanecer vazia, acompanhava o caminho da corrente marítima abaixo do barco. Sem peixes. O velho, olhando para trás, via a areia do mar sendo tingida pelo crepúsculo. Feixes de luz agora iluminam todo o mar, fazendo dele um escuro tecido com fios dourados. O velho permanecia parado, com um amarelo a passear pelo seu rosto. Parecia uma carícia.
E a noite transformava em prata os fios antes dourados. O frio começava a aumentar, mas, com a mesma serenidade de antes, o velho recolhe a rede. Pesada, porém vazia. Remando, volta à areia e, apesar da idade, empurrava o barco, como sempre fez. Sozinho. Guardou a rede num pequeno baú que havia na embarcação e seguiu para sua pequena casa. Mas antes, como sempre faz nessas saídas, puxou uma velha aliança, já gasta pelo tempo. Tempos atrás, carregava um ouro que cegava o sol. Agora, um fosco cinza mal reflete a Lua.
Olhando-a lentamente, pareciam sair luzes de seus olhos, misturadas a um mar que todo homem carrega no seu mais escondido oceano.