terça-feira, 26 de outubro de 2010

Velório

“A vida inteira que poderia ter sido e que não foi.”
Manuel Bandeira


E todo berço em ti jaz cova,
ferino eco de soturno corvo,
ninando escuro o Nunca-Mais.

E o tanto pouco que sobra vivo
é vago resto de roídos ossos:
podre arcada - outrora alvo lume -
a desorrir auroras em surdo réquiem.

Pois teu cego tato enterra, fundo,
fingindo tanto que, ensurdecendo-me,
da minha boca cala o sincero esmalte

e este infindo luto afunda mudo
em imunda cova, cuja estéril terra
tua palma planta e teu escasso canto
vela o peito inumo no sétimo palmo.



5 comentários:

  1. Gostei. A primeira estrofe lembrou muito o poema de Edgar [Scandurra] Allan Poe, "O Corvo". O texto no geral dialogou [sic =P] a imagem do "follow your dreams". =]

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  2. E é bem pesado esse texto. Bem carregado.

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  3. Oi Pitta,
    como vc está?
    Muito bom seu blog! Parabens!

    Adicionei um link do seu blog lá no nosso.

    Beijos
    Lidia e Drico

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