Os olhos, num distante vazio, desfocavam os retratos espalhados pela estante. E a mão, úmida do frio pavor, deixa escorregar a pistola, que tomba, ainda quente, no piso. No desconcertante arfar, o corpo, a tremer, descontrolava os sentidos e deixava-se cair no chão, próximo à arma. Perfumes caem também, derramando, no ar, aromas – queimados pela pólvora.
Lutando contra o desespero, Fernando usa as mãos perdidas para se apoiar e levantar-se. A moldura, ao chão, despia o espelho, agora estilhaçado, cujas fraturas desfiguram a inocente criança, outrora gravada num retrato de infância, que tempo e mofo amarelaram. O primeiro disparo atingira o passado, pendurado numa parede. O segundo, destinado à têmpora, mas guiado pela fraqueza dos irresolutos suicidas, acabou indo direto ao espelho.
Os olhos irreconhem o que enxergam no mosaico. Embora a visão se queira moldura, há reflexos perdidos. E uma bala, solitária, resta no pente, fazendo estilhaços e disparos ecoarem numa face morta.
genial!
ResponderExcluirFernando como todo homem moderno: fragmentado e desesperado.
ResponderExcluirAbraços!
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