sexta-feira, 4 de junho de 2010

Vende-se





I've been a miner for a heart of gold
And I'm getting old.
Neil Young


Fecho-me no amor que diariamente crio, devaneio tolo de uma vontade vagando numa fábrica de afetos, embalando caixas de carinhos. Não o megaproduto que se derrete na boca dos amorosos desesperados, que, na indomável ânsia do querer-ter, asfixiam-se nas voltas de línguas mudas pelo vácuo que sela embalagens e ouvidos. (Esse amor surdo e faminto já feriu meus lábios um dia.)

Mas singelas caixas que mal pagam uma curta propaganda. Embaladas cuidadosamente, quase artesanalmente, apesar dos gritos da fábrica. Os laços do sonho mantêm-nas fechadas, dando uma discreta beleza a algo tão simples. A preço de custo, à custa do peito. Lote de validade infinita, porém a umidade do almoxarifado da timidez e do desejo prejudica a qualidade. Se é para uma inexistente compra, não sei. Mesmo assim, os ruídos da incessante produção ainda são ouvidos.



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