terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Glosa sobre a Saudade



Há versos que não devem ser escritos.
Cortinas de lamentos enclausuram o corpo num triste escuro.

Alguém que se foi,
uma longa partida,
um peito partido,
nada disso merece a elegia.

Esses versos, amigo, faz do volátil pedra
que insistentemente afunda o corpo num profundo maremoto.

O seu coração bate.
Ainda bate.

Não escreva tais versos, pois a saudade não é gaiola aberta
chorando por um passarinho que voou.

Não escreva tais versos, pois a cortina, densa de lã fria,
ainda deixa passar, numa fina brecha de luz,
o canto de um pássaro amarelo

que não cessa de cantar
num peito partido.

É a vida a cantar, meu caro,
e a saudade é a alegre lágrima
de um outro viver, longe,

ecoando os raios de um infindo voo.



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