quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Esquinas paralelas



Pedi um tempo para que você ouvisse o que eu tinha a dizer. Mas não bastaria apenas falar. Saber o que é dor é a melhor forma de se comunicar – isso você pouco sabe. Nada sabe. Pouco tempo bastaria, mas sua pressa correu da súplica. Sua pressa de ser você deixou de lado uma mão pendente.


Agora te levando, sangrando e de olhos aéreos. Seu foco se perdeu no caos. Mala pendente, terno rasgado – tiro no peito. Sua pressa desviou-o do caminho de sempre. “Por aí não!” eu disse, mas o som não dobrou a esquina. Dois sujeitos dobraram, e um disparo dobrou de volta até a mim. Levantei.

Peço um tempo para que você ouça o que eu tenho a dizer. Mas não basta apenas ver. Saber o que é dor é a melhor forma de se comunicar – isso você sabe bem. Muito. Pouco tempo tenho, mas sua pressa correu para a súplica. Sua pressa de ser você deixou de lado uma mão pendente e salvou um cadáver.

Agora não mais levanto, sangrando e de olhos fechados. Meu foco se perdeu no silêncio. Vida pendente, tempo rasgado – ponto final. Minha pressa desviou-me do caminho de sempre. “Por aqui é mais rápido” eu pensei, mas o cuidado não dobrou a esquina. Dois sujeitos dobraram, e um disparo me dobrou no chão. Caí.

Agora sou dor. Carrego o que não posso suportar e o que me destrói. Carrego as lágrimas de não poder ajudar quem está tão perto. São corpos vazios, que se aproximam sem que vejamos. Nunca vemos: pois só a dor nos faz entendê-los. Só.



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