Não somos um casal!, ele dizia sempre. Não fugia de relações, mas de posses; meu amor, meu namorado, meu tudo. Na verdade, não sabia sentir isso. Com ela, não sentia nada que valesse um dia falando besteiras ou uma noite a dois. Diferentes todos são. Opostos, aí sim tem diferença: e era isso. Sexo era outra categoria de relação – segundo seus solilóquios. E agora essa agiotagem ridícula de atenção. Quem dá atenção exclusiva é espelho! E assim ele, continuando sua vida, continuava na sua fé libertadora, construída em cima de não consigo me ver vivendo apenas com uma pessoa ou acho que você tem que se desprender mais dos outros, que nada mais era do que desculpas para não dizer com você, nada. (São essas sinuosidades que fazem da língua o melhor dos palcos.)
Foi aniversário dela. Amigos, pais, irmãos, primos. Todos ali, ovacionando-a. Sua beleza ficava mais forte com isso. Era sua vida, cada vez mais iluminada pelas velas. Todos, pra ela. Dela. E ele não foi. Estava longe da festa. Uma ligação duas três quatro cinco sete doze. Desespero, confusão, sons difusos e choros. Mais ligações. Ela insistia, como se faltasse uma vela para seu bolo. Mais uma das suas outras velas, pertencentes à sua grande torta, recheada de si. Ele nunca estaria por ali, entre fogos e palmas.
Era seu. Seu! E não estava ali? Beijava-o quando queria, aparecia quando queria, atiçava-o quando não queria. Era dona. Ele não pode fazer isso!
Dias depois, a cobrança. Ele, o silêncio; ela, misturando maquiagens, dores e posses. Ele nada dizia. Baixou a cabeça, como se pedisse desculpas. Mas estava a ponto de explodir. Ela percebeu. Aproveitou e montou suas tropas verbais. E então, Waterloo.
Ele se levantou e deu as costas. Rabiscou um passo, dois, mas parou. Ela gritou seu nome, tentando fazer o coração ser mais ouvido com os berros. Ele lembrava-se de alguém. Outra mulher. Sentia agora a sensação de ser desprendido de alguém. Os constrangedores e incômodos gritos o deixavam mais nervoso. Eram uma afronta ao amor que ele tinha. Um amor que sonhava em suas teorias utópicas. Agora, distópicas:
– Não tinha porquê ir à sua festa. Estava vendo minha mãe doente agonizar em uma UTI... Ela morreu. Ainda a vi me olhar e deixar seus perdões transbordarem dos olhos. Sempre me ausentei de seus... pedidos. Não me cobre nada!... Sua data não significa nada pra mim. Ou melhor... Você nada significa em mim. O que pra você é vida, pra mim são velas apagando.
Continuou a andar, afastando-se. Ele e suas lágrimas. Mas ela não vê.
Agora ele sabia: amor é deixar suas lágrimas caírem abraçadas com as de outrem.
Meu velho, você é um artista. Que destruição é essa? Essa é uma reflexão que constantemente promove espetáculos no palco da minha mente. É uma peça trágica. É uma obra da vida.
ResponderExcluirAbraços.
∆٭♥∞
angustiante... verdadeiramente angustiante... acho q agora te odeio por isso... ou será só meu mau humor?
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