Não pensemos que o que possuímos no peito basta para ter tudo. Esse órgão que em tudo quer mandar e viver pode nos levar ao mais infeliz, porém normal, dos enganos do homem. Pensemos que esse órgão - o coração, para sanar as dúvidas dos mais desatentos - seja uma casa; uma ampla e bela casa, típica dos mais bucólicos interiores. Daquelas que não se fecham as portas ao dia e não se trancam ao anoitecer. Nessas casas, entram aqueles que, pelas circunstâncias da vida, são convidados por elas. Daí ficamos, como se em casa estivéssemos. Aproveitamos a estadia e, quando chegada a hora de partir, da mesma forma que todos os anfitriões fazem, desejando a extensão da visita em sua casa, ouvimos desejos de permanência, nem que seja por apenas alguns minutos. Mas é hora de sair; mesmo que não se fechem, há as trancas do tempo, que dizem quando se deve fechar uma porta. Saímos num misto de conforto e saudade, sem saber realmente o que, de fato, queremos. Era hora de dar um ‘até logo’ à tão bela casa, mas o abraço aparenta ser em uma tábua de salvação. Assim como a visita, os mesmos sentimentos envolvem as casas; não poderiam eternizar uma visita, que, na própria palavra, denota efemeridade. Mas o mesmo tempo que passou o cadeado nessa porta pode, um dia, voltar a abri-la. Mas hoje, talvez, essas casas tenham sido demolidas e, nos seus lugares, levantaram grandes celas. Grandes, incomparáveis às antigas casas, que pareciam abrigar anões. Nesses grandes grilhões, passamos desconfiados, a olhar de soslaio, temendo a intimação feroz das barras de ferro, que misteriosamente refletem os olhares. Ao contrário daquelas antigas construções - agora ossos enterrados -, dentro dessas novas havia muitas pessoas, e, com olhares tristes, vagueavam as íris para cá fora. Ao perguntarmos a um dos cativos o motivo de sua entrada nas celas, um deles respondeu: ‘estava vazia e parecia confortável. Não vi os outros aqui.’. Estranhamente, ao passo que mais gente entrava nas celas, ela nunca se enchia, ao contrário do que aqueles antigos casarões de que antes falávamos, que, com apenas uma pessoa, se completavam (as visitas também se enchiam, como se vivessem a comer do bom e do melhor). Agora nem o tempo, muito menos a piedade, chegava a essas barras. A ferrugem ardia toda a prisão, mas ela se mantinha firme no seu tão cheio vazio. Talvez tenhamos demolido muitas daquelas antigas casas.
Mas alguma coisa nos diz que essas casas nem tenham sido derrubadas. Com o tanto de grades que há nas janelas de hoje...
Linda metáfora. Absolutamente. Consegui me identificar com cada palavra. Devo confessar-lhe aqui que sou o tipo de pessoa que tem medo de deixar as visitas partirem. Eu me apego. Mas eu bem que coloquei um murinho alto em volta da minha. ^^
ResponderExcluirParabéns pela imensa sensibilidade, meu velho.
Abraços.
∆٭♥∞
Parabéns Xandaum! Realmente a escrita eh uma arte!P
ResponderExcluirPegando o gancho do comentário acima.. sensibilidade ou (in)sensibilidade?
Heheheheheh!!!
Abraço cara!