(Pelamordedeus, o título não está errado!)
Eram crises que a faziam parar tudo em volta: a voz faltava, todo o ar era pouco, os olhos procuravam algo que não se sabia ao certo o que era – e todos em volta, atônitos, apenas diziam ‘se acalme, moça!’. Os olhos, na crise, reviravam; a moça era só inconsciência. Esses espasmos não eram raros de acontecer, pois bastava qualquer instabilidade em si que seus olhos escondiam-se. Era toda estática; não reagia às vozes dos que a cercavam, que perdiam o fôlego de tanto ordená-la a resgatar o controle.
Mas recobrada a consciência, as íris continuaram escondidas. Todos em volta olhavam espantados a moça que, de súbito, levantou-se, de nada lembrando o que ocorreu. Pediu licença a dois indivíduos e uma criança que assistiram à cena, dirigiu-se até a porta da pequena recepção do consultório onde estava, desceu os dois vãos que separavam o 1° andar ao térreo e saiu do prédio, seguindo seu rumo. Os olhos continuavam virados; passou pelos outros, todos os outros, com suas pressas e buzinas. Havia alguns que os olhos-para-dentro nunca veriam. Certa de que estava tudo bem, seguiu para seu trabalho e, de lá, voltou para casa. Não se teve mais notícias de crises, muito menos do retorno das íris ao ‘lugar de origem’.
Lenine - Umbigo
Isso me lembra uma dessas quintas feiras. E eu estava feliz por que ia te ver.
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