quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Perguntas na Madrugada


O que houve com a noite que tranqüilizava os homens?

Onde estão as estrelas cintilantes que guiam?
Onde foram parar aqueles que sentiram o fogo?

Onde estão os presentes régios que os filhos ganharam?
Onde está a simplicidade e a humildade?
Morreram na cruz?

O que é o Natal?
Festejar o nascimento...

Quantas fomes nascem durante a noite?
Quantos choros nascem durante a noite?
Quantas mortes nascem durante a noite?

Mas os presentes são esquecidos?
Os banquetes são saborosos?

A estrela nos guiou porque era cadente
Ou era cadente porque nos guiou?

Quando vão terminar a via crucis?



Ho Ho Ho...


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"O que é bonito?", de Lenine


O que é bonito
É o que persegue o infinito
Mas eu não sou
Eu não sou, não...
Eu gosto é do inacabado
O imperfeito, o estragado que dançou
O que dançou...
Eu quero mais erosão
Menos granito
Namorar o zero e o não
Escrever tudo o que desprezo
E desprezar tudo o que acredito
Eu não quero a gravação, não
Eu quero o grito
Que a gente vai, a gente vai
E fica a obra
Mas eu persigo o que falta
Não o que sobra
Eu quero tudo
Que dá e passa
Quero tudo que se despe
Se despede e despedaça

O que é bonito...



O 'quem sou eu' da minha página do Orkut.



quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Um Show de Mãos


Cortinas talvez não fossem capazes de esconder aquele palco que há tempos fora montado. Os shows de luzes e sons criavam a ilusão de que era outro mundo; mesmo assim, não se via o palco. Mais luzes, mais sons, vozes agora se misturavam na confusão que fazia da platéia um debater de cabeças, olhos e mentes. Passos, gritos, olhos, cabeças - histeria. Pessoas andam pelo palco. Muitas. As luzes, passeantes, não deixam à vista esses indivíduos; são apenas vultos vivos. Mesmo com a cegueira das poltronas, o palco torna-se um ringue; cada personagem grita e gesticula como se fosse um nesse tablado. Não há harmonia, e os barulhos se sucedem. Cada um, em seu palco criado por berros e surdez, tentava ao menos atingir um espectador que fosse. As palavras passaram a ser atiradas; saíam como pedras flamejantes na direção do quem-fosse-acertado. Os outros que ocupavam o palco faziam o mesmo; ouvidos fechados e bocas abertas. Havia muita gente na platéia; o que restou foram mãos que, sem corpos, bateram palmas.




sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Inxergar


(Pelamordedeus, o título não está errado!)


Eram crises que a faziam parar tudo em volta: a voz faltava, todo o ar era pouco, os olhos procuravam algo que não se sabia ao certo o que era – e todos em volta, atônitos, apenas diziam ‘se acalme, moça!’. Os olhos, na crise, reviravam; a moça era só inconsciência. Esses espasmos não eram raros de acontecer, pois bastava qualquer instabilidade em si que seus olhos escondiam-se. Era toda estática; não reagia às vozes dos que a cercavam, que perdiam o fôlego de tanto ordená-la a resgatar o controle.

Mas recobrada a consciência, as íris continuaram escondidas. Todos em volta olhavam espantados a moça que, de súbito, levantou-se, de nada lembrando o que ocorreu. Pediu licença a dois indivíduos e uma criança que assistiram à cena, dirigiu-se até a porta da pequena recepção do consultório onde estava, desceu os dois vãos que separavam o 1° andar ao térreo e saiu do prédio, seguindo seu rumo. Os olhos continuavam virados; passou pelos outros, todos os outros, com suas pressas e buzinas. Havia alguns que os olhos-para-dentro nunca veriam. Certa de que estava tudo bem, seguiu para seu trabalho e, de lá, voltou para casa. Não se teve mais notícias de crises, muito menos do retorno das íris ao ‘lugar de origem’.



Lenine - Umbigo

domingo, 16 de novembro de 2008

Cara e coroa

Olhava atentamente uma reles moeda, que solitariamente repousava no bolso do paletó há dias. Nunca foi uma atividade muito interessante contemplar trocados escurecidos por tempo e mãos. Era apenas uma; não tinha brilho. Insignificante. Tão insignificante ao ponto de ser esquecida. Centavos que, ao menos, servem para (a)pagar o preço da consciência; a moeda foi passada a um pedinte. Se antes não havia, agora brilhos surgem, mas de olhos. Insignificante; talvez nunca tivesse sido. Ela reflete o que sai dos olhos de quem a segura.



quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Frio




Pensou sozinho. Talvez um raio no meio da cabeça resolvesse isso de uma vez. Já lhe bastava a agonia de ouvir suas meias enlameadas dentro do sapato. Desistiu de sentir a chuva. O guarda-chuva, pra variar, voou na primeira brisa. O tempo cinza deixava colorido apenas a lama que escorria pelas ruas mal-asfaltadas. Só o que se via era o barro. O homem caminhava lentamente. Já não importava mais sua casa. Não sabia onde ela ficava.

O tempo chuvoso deixa as pessoas mais apressadas e as ruas mais desertas do que elas já são. Gotas na cabeça. Batem ferozmente. Pedro pensava se seria melhor voltar para casa, tomar um banho quente e deitar em sua cama. Não iria conseguir. A chuva iria bater no telhado. Melhor se encharcar, pisar na lama, sujar os pés. Não tinha certeza, na verdade. Não sabia. Lembrava do que antes havia acontecido. Lembrava que aquela chuva era nada perto do que acontecera. Tinha vergonha de sentir frio. Tinha pavor de sentir frio. Queria esquecer sua casa. Ela o prendia. Antes não ouvia a chuva bater no telhado, mas agora sabe que ela não o deixará dormir. O vento baterá as janelas, as gotas continuarão batendo em sua cabeça. Nunca deixará de sentir frio.

Teve vontade de se encolher. Ergueu os braços até o peito e se abraçou. Passou por algumas pessoas abrigadas em uma loja de sapatos. Parou em frente a uma vitrine. Sapatos bonitos, novos. E o seu era barro. Ficou um bom tempo a olhar a exposição. Nenhum vendedor se aproximou. Pedro não tinha bem uma cara de cliente. Os sapatos atrás do vidro. Novos. Pedro baixou a vista e olhou os seus. Continuou baixo e olhando, sem saber.

Voltou a andar pela rua. Trombando com guardas-chuva, Pedro apenas olhava seus sapatos. Pensava se podia ao menos comprar um outro guarda-chuva. Não resolveria? O frio continuaria, mas as gotas deixariam de crucificá-lo. – Não sei. Os passos se seguiram. O vento alimentava o frio. O abraço há muito deixou de aquecer.

Pedro pára. A rua, sempre vazia, agora está desabitada. Ele olha para o céu. Olha as gotas caindo como flechas diretamente em seus olhos. A lama não saía do sapato, apesar da chuva. A rua. Pedro puxa um envelope de seu bolso, abre e o relê. ...se você ao menos me sentisse. Uma gota caía em si. O frio aumentava ainda mais. A gota escorre o seu rosto, descendo até o papel. Ele queria voltar. O frio não deixava. Pedro ouve um barulho em um toldo que cobria a frente de um prédio. Havia um mendigo que, ao vê-lo, pôs a se levantar. O frio aumentava. Pedro ficou atento ao homem que se dirigia a ele com um guarda-chuva bem velho, pelo tanto de furos que tinha nele. Mas protegia das gotas na cabeça. Chegando bem próximo, o homem nada mais fez do que lhe entregar o guarda-chuva. Assim que entregou, o mendigo se virou e voltou para a sua casa.

Pedro tentou se esconder do seu espanto, mas o guarda-chuva estava em suas mãos. Ele olhava o mendigo atentamente. O homem havia se deitado, cobrindo-se com um pano velho que mal dava para se aquecer. – Ele esteve sempre ali? Uma gota atravessa o guarda-chuva. ...se você ao menos me sentisse. As mãos tremiam descontroladamente. O frio estava insuportável. – Quero minha casa. Mas olhou pro mendigo de novo. O guarda-chuva se rasgou. As gotas são intermináveis. Pedro volta a ler a carta. Um vento súbito e forte afronta-o. A carta faz algumas danças no céu e cai em seus sapatos. Ainda na esperança de que a carta não se suje, Pedro a pega num gesto rápido. Mas ela já estava em seus sapatos. E a lama apagou toda a tinta.




sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre algo chamado Amor














O homem já não dava passos leves como os de antes. Por não sentir o chão, acabou beijando-o em diversos buracos. Os olhos que imaginavam um futuro tornaram-se cegos; a vista foi muito forçada. Esqueceu-se da base, na tentativa de chegar a o céu.

Esvaziava-se no chão, querendo o consolo de um azul que esconde um vazio lá fora. Não caem respostas do céu; apenas estrelas. O chão é gelado, assim como o céu. A estética é ilusória. É o que você enxerga? Pois bem. Imagem é tudo que sua mente processa. Melhor do que esperar daqui de baixo conseguir abraçar todo o azul é saber se o infinito de sua alma consegue preencher seu próprio vácuo. E atrás do azul há um todo repleto de nada.


sábado, 23 de agosto de 2008

E não sabe que voou


Duas leves mãos. Apenas isso me restava. De tão leves, voaram. Para longe. As mãos que alisam acenam um ‘Adeus!’. Seguram-me, e empurram. Agora, nada fazem; antes tateavam levemente um coração e tapavam sua boca, a fim de que não houvesse mais choro. A pressa de agarrar e manter como seu não mantém essas tão flutuantes mãos perto. A força não segura o que não pode abarcar. Aquele que sempre foi cego tinha no suave tato a vida. Tinha talvez o que nunca foi, de fato, seu.

Tem agora mãos em súplica e algo que voltou a lamentar;
tem agora o que nenhuma mão quer segurar – a própria morte.




sábado, 26 de julho de 2008

Ressaca sem Fim


Claro que todos estavam ansiosos e hipnotizados pelo discurso sedutor do candidato. Tudo que era dito entrava em ressonância com os olhos tristes e esperançosos dos ouvintes.
Um bêbado, pisando em mais calçada do que realmente havia, se defronta com o comício. Bambeando e com olhar confuso, diz:
- Pelo visto a ressaca já começou... E tá todo mundo bêbo ainda...

Mas ninguém ouviu o pé de cana: o álcool do perfume importado do político agradava mais aos ouvintes.




domingo, 13 de julho de 2008

Cacofonia



O choro silencioso

com uma corda levemente desafinada.
Poucos ouvem,
mas os que sentem a dissonância
não podem afinar o violão.

Talvez só eu possa fazer isso.
Tensionar para que se afine a fina corda,
mas sem que ela parta.

Talvez seja melhor deixá-la assim.
O risco é grande.
Acho que não terei outra corda para
pôr no lugar.

Mas o desafino incomoda
Muito.
Parto de vez a corda,
arriscando a perfeita harmonia
(e que todos aplaudirão)
ou continuo nesse toque esquisito
que poucos ouvem
E apenas lamentam?

Tornar o vácuo dono da
Terra!
Deixar os sons mudos
para que não precise senti-los.

Mas a corda do violão
continuará desafinada.
De nada resolverá o silêncio:

O desafinar sai de mim.


terça-feira, 8 de julho de 2008

Fim do Ranger




E tinha certo cuidado, como tudo aquilo que possuía valor. Esse ‘tudo aquilo’, na verdade, não passava de uma coisa só. Talvez não valesse nem uma moeda velha, mas para aquele velho solitário, era o que o mantinha vivo. Os anos passaram depressa; a velha cadeira de balanço já rangia seu fim. Nela, apenas viu acenos. Vários acenos. Os que se sentavam ao lado (havia esses?), nem um balanço deram. O vai-e-vem do assento ia, lentamente, acompanhando o tempo do velho. Aquilo que ele tanto cuidava era o que sacolejava a velha cadeira. Se mais alguém fez isso? O velho não acreditava. Era sozinho: nisso sim ele tinha fé. E bastava. Balanços de mãos distantes não chegavam à cadeira.

E assim sua vida seguia. Nada mais a esperar, apenas o sossego da cadeira.
E o que era o fiel enigma do velho? Ele praticamente não diz. E não adianta o pouco que se ouve: ninguém entende. O velho apenas murmura: ‘algo empurra balança esta cadeira’. Vida estranha a desse velho... Olhar, sozinho e sentado em um amontoado de madeira velha, o mundo passar. Nunca se levantou! Comentários feitos pelos outros que, chegando aos ouvidos do senhor, faziam com que ele mostrasse um triste sorriso. ‘As mãos continuarão distantes. Elas não balançarão minha cadeira; me empurrarão ao chão’. Dizendo isso, o velho apertava ainda mais o misterioso objeto que ele tinha. As juntas da cadeira de balanço soltavam sons mais fortes. Se é dor, se é medo, se é felicidade, não há como saber. O som não se entende com os ouvidos. Nessas horas de rangidos, o velho fechava os olhos, apagando a luz da realidade trazida nas mãos de aceno. Era quando o velho sorria. Raramente.

Era isso que fazia com que o velho teimasse a deixar que o balanço cesse. Sozinho está, sozinho ficará, apenas com a companhia do desconhecido objeto. O velho olhou demoradamente para ele. Derramou uma única lágrima em cima daquela misteriosa matéria e, como se antes não existisse, ela sumiu das mãos do ancião. Mas ele não parecia se importar; já esperava que isso acontecesse algum dia. O balanço lentamente parava seu vai-e-vem. Os rangidos não se escutavam mais. O velho então colocou seus pés no chão. Sua antiga e triste feição voltou ao rosto. Sem sair da cadeira, seus olhos se fecharam.







Uma mão vinha levantá-lo. Aquilo que antes ninguém sabia o que o velho escondia agora era luz. Uma luz branca, que o engolia. O sorriso tomava conta de seu rosto. O balanço ficou para trás, mas seus pés não mais tocariam o chão.




Não costumo escrever para alguém. Mas certas pessoas merecem (até mais do que algumas linhas).




sábado, 21 de junho de 2008

Como (sobre)viver em um curso de humanas


1. Não deixe de ler. Caso não leia, pegue o resumo do texto que o professor falou e vomite para todos. Nem é necessário dizer que precisa ser um texto de teor marxista.

2. Filmes, só em sala de arte. Nunca diga que você foi ao Cinemark ver Homem de Ferro (se for, vá escondido. Um filme desses não é para seu 'nível', não acha?).

3. Jeans e camisa da Mitchell é inadmissível! Sua roupa precisa de, pelo menos, 5 cores distintas. Óculos preto apenas se for bem estranho.

4. Futebol é esporte de massa. Você defende a massa, mas não gosta de esporte. Exercício físico, como é tradição colonial, é coisa de gente de baixo nível. Você é 'intelectual', não esportista.

5. Não debata; quebre, queime, grite etc.

6. Fume maconha e 'respire' seu discurso libertário. Mas não se importe se foi um traficante quem vendeu.

7. Ouça MPB e qualquer banda ou artista que seja nacional e que faça algo fora da mídia. Isso não inclui pagode. Você é 'culto' e isso é música inferior.

8. Você é 'culto', então sabe mais que os outros. Não dê ouvidos a outros argumentos.

9. Seja sexualmente liberal, mas abomine o carnaval e festas de axé.

10. Abomine qualquer outro estilo musical que não seja MPB, música erudita ou algo que tenha relação com culturas regionais.

11. Seja vegetariano. Se você achar um cachorro abandonado na rua, leve-o para casa. O mendigo pode ficar onde está.

12. Nariz empinado é tão obrigatório quanto um militar marchar corretamente.

13. Não use marcas famosas. Deixe pra comprar camisas caras na Mito. Já que todos compram lá, vá em grupo. Assim vocês saem vestidos com a mesma camisa.

14. Não leia, nem sob tortura, Paulo Coelho.

15. Compre revistas que realmente se importam com o social, com uma população mais bem informada. Mas prepare-se: elas são caras (e nem todos podem comprar – fator que também te torna um 'culto').

16. Faça curso de teatro, ou pelo menos seja teatral. Ser espalhafatoso também é ser 'culto'.

17. Utilize qualquer coisa no seu nome do MSN, menos seu próprio nome. Sempre utilize uma frase de MPB ou de um poeta em sua mensagem pessoal.

18. Seja expert em teses para liberação de drogas, mas esqueça uma forma efetiva de distribuição de renda (ou você não acha que o Bolsa Família é assistencialista?)

19. Tire fotos estranhas. Não serão estranhas, mas sim profissionais, de quem tem um olhar artístico.

20. Gaste uma fortuna em um show de MPB, mas critique quem paga caro para ir em shows de axé ou forró.

21. Cult = culto.

22. Seja devoto de São Jorge ou, pelo menos, coloque em seu perfil do Orkut a oração dele.

23. Você é culto, então não pode achar graça desse texto superficial e sem criticidade. Nos seus chás, cafés e saraus nascem discussões e textos muito mais construtivos.


Com o que tem de gente merda desse tipo, dá pra fazer da UFBA uma fábrica de adubo...


sábado, 24 de maio de 2008

Corrida com Obstáculos




Avenidas vazias e movimentadas.

Vozes gritam,
mas ninguém faz questão de ouvir.

Muita gente,
pouco espaço,







nenhum contato.








O cronômetro calou todo mundo.
Pessoas competem com ele,
se atropelando.
- Ele não pode vencer!

Com quem eu concorro?
As pessoas na rua me atrapalham
também.

Mas o cronômetro já venceu.
As pessoas estão atrasadas?
Ou são...?


Essa foi a 1ª produção de vídeo feita por mim. Já deu pra aprender a fazer algo melhor que esse vídeo.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Helloween - I Want Out (tradução)



Helloween - I want out

Composição: Kai Hansen

Eu quero sair

Desde o início de nossas vidas
Somos empurrados para pequenas fôrmas
Ninguém nos pergunta
como gostaríamos de ser

Na escola eles nos ensinam o que pensar
Mas todos dizem coisas diferentes
Mas estão todos convencidos
De que estão certos

Então eles continuam falando
E nunca param
E a certa altura você desiste
E a única coisa que você deixa de pensar
É essa:

Eu quero sair - e viver minha vida sozinho
Eu quero sair - me deixe ser
Eu quero sair - e fazer coisas do meu jeito
Eu quero sair - viver minha vida e ser livre

As pessoas me dizem A e B

Eles dizem como eu devo ser As coisas que já me são claras
Então me empurram de um lado para o outro
Eles me levam de um lado extremo ao outro
Me empurram até que não haja nada para ouvir

Mas não me levam ao máximo
Calem a boca e saiam daqui
Porque eu decido de que jeito
As coisas vão ser

Eu quero sair - e viver minha vida sozinho
Eu quero sair - me deixe ser
Eu quero sair - e fazer coisas do meu jeito
Eu quero sair - viver minha vida e ser livre

Há um milhão de jeitos
De ver as coisas na vida
Um milhão de jeitos de ser um idiota
No final, nenhum de nós esta certo
Ás vezes nós precisamos ficar sozinhos

Não, não, não,
me deixem só.

Eu quero sair - e viver minha vida sozinho
Eu quero sair - me deixe ser
Eu quero sair - e fazer coisas do meu jeito
Eu quero sair - viver minha vida e ser livre

Fonte - http://letras.terra.com.br/helloween/107429/

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Prelúdio (repostado)

(Leia com a música. Espere carregar toda.)

A noite estava pesadamente escura. A 4ª Bachiana ressoava por todo o teatro. Todos os espectadores, trajados elegantemente, como o ambiente pedia, saíam satisfeitos. Era uma área high class, como muitos diziam lá. Ouviam-se saltos altos, celulares tocando, motoristas particulares chegando. Mas alguma coisa mantinha a Bachiana ressoante naquele lugar.

Havia um mendigo na porta do teatro. Encolhido, pois o vento era muito forte. Era um período de chuva. Os espectadores comentavam sobre a beleza que eram as peças de Vila-Lobos. “Dava orgulho de ser brasileiro, ao ouvi-lo”; era o que alguns diziam, resumindo o pensamento de todos que estavam no teatro. O mendigo continuava lá fora. Não poderia compartilhar da mesma opinião. A fome e a falta de panos não o deixaram ouvir a orquestra. Ouvia apenas a indiferença que saia dos espectadores. Gestos, falas, sorrisos que não eram para o pedinte. A Bachiana era tão bela...

O vento ficava cada vez mais forte. O tempo, mais fechado. Guardas-chuva se abrem. O mendigo se encolhe, olhando para os lados. Não há lugar para se proteger. Ele levanta. Receoso, tentando se cobrir com o pouco de pano e papelão que tinha em mãos, se aproxima da entrada principal do teatro. Tenta conseguir pelo menos alguns papelões a mais ou um espacinho no teatro até passar a chuva. Os espectadores se entreolham. Torcem bocas e olhares, aumentando o frio no homem estranho que aparecera. Um segurança, ainda se aproximando, gesticula para o mendigo se afastar. Ali não era lugar para ele. O farrapo nem ao menos se explicar conseguiu. Empurrado e abatido, volta para a rua.

A chuva ficou mais forte. Começava a respingar nos espectadores que estavam na porta do teatro. Eles entraram para se proteger, apesar do concerto já ter acabado. Só um homem estava lá fora. Não dava pra ver o rosto dele. A chuva era mais forte. Devia haver lágrimas marcando o compasso da Bachiana, mas ninguém ouvia. Talvez a Bachiana do mendigo não precisasse mais de choros. A sua regência era eterna. Os espectadores continuavam a conversar e a elogiar o espetáculo. “Como um homem inseria tanta brasilidade na música erudita? Era esplendoroso!”. Eles só pensavam na Bachiana.

O mendigo, ainda na porta, olhou novamente para os lados na esperança de achar um abrigo. Seu papelão e sua roupa já estavam ensopados. Ele começava a se tremer. O frio aumentara, assim como o vento. Voltou-se para o teatro. Alguns espectadores olhavam, talvez mais preocupados com seus motoristas que demoravam a chegar. Alguns até comentavam sobre o mendigo. O homem da rua, que não sabia mais para onde olhar (sua cabeça estava abaixada), ergue suas mãos tremidas pelo frio até o peito e as junta. Após isso, ele vagarosamente se ajoelha. Não havia mais para onde olhar. O céu estava fechado. E o chão escondia sua vergonha.

Os espectadores se espantam. Não se ouve mais elogios. Nem a chuva era ouvida. Apenas um choro regendo um prelúdio. Prelúdio este que não acabava. Ecoava em cada dia desse homem ajoelhado, mesmo sem ele nunca ter pisado em um teatro.

O prelúdio ganha um novo regente. Não há gestos graciosos de um maestro, mas sim duas mãos trêmulas, unidas e encostadas ao peito. Os espectadores começaram a ouvir, de verdade, a Bachiana. Lágrimas acompanhavam a sinfonia ouvida por aqueles que o teatro sempre deixara de fora. A Bachiana era muito mais conhecida para o mendigo do que para os espectadores. Ela o tocou primeiro. E ele não quis ouvi-la. Era ele o maestro, agora, e os espectadores sentiam a triste regência escorrer entre gotas de chuva e lágrimas. As súplicas que nunca foram ouvidas, as moedas que nunca foram dadas, um espaço não cedido para que a chuva não o molhasse, lágrimas que nem com a força dos céus conseguiam ser ouvidas. Agora a Bachiana fazia com que aqueles que estavam dentro do teatro ouvissem o maestro. Ouvissem suas lágrimas.

Mas, ainda assim, os espectadores continuavam dentro do teatro, e o mendigo, fora. Alguns saíam pelos fundos do teatro, outros passavam pela escada que o mendigo se encontrava. O segurança não tinha mais coragem de tirá-lo de lá. Ninguém tinha coragem de, ao menos, olhar para ele. A chuva escorreu a dignidade de todos. A chuva escondia o rosto de todos. O maestro conseguiu comover sua platéia. Mas as palmas não vieram. Todos olhavam para baixo. O prelúdio se eternizou.



quarta-feira, 12 de março de 2008

Escalando a Montanha



Para um dos 'novos' pecados capitais:
a desigualdade social.


Há uma Igreja em minha frente.

Gente chegando,
carros parando,
Logo a casa se enche.
Fiéis
levantam mãos,
queimam o fogo em suas almas.

Está frio aqui fora.

A hóstia é passada.
Tem para todos
Menos para mim...
O vinho é passado:

eu só queria água...

Um choro.
Pena,
raiva,
dor.

Chove muito.
A casa de Deus é quente,
aconchegante,
mas não entro.
Não se entra na casa
dos outros
desarrumado.

Bem-aventurado o que chora,
porque ele será consolado.

A chuva pára.
Alguém se aproxima,
andando pela rua,
em minha direção.

Um pão!
Um copo de água!

Pessoas saem da Igreja.
Voltam a seus carros,
seguem seu caminho.

Suas almas queimaram de fé
lá dentro.
Nada sobrou para cá fora.

O homem que veio a mim
está aqui ainda.
Já os outros que rezam o terço

Não estão acompanhados.



terça-feira, 4 de março de 2008

Tudo por causa de um show



Claro que minha intenção inicial era apenas ir para o show da banda que mais admiro nesse mundo: Iron Maiden. Mas um ingresso de 185R$ me deu muito mais do que eu poderia pagar, ou merecer. Começarei falando da viagem em si. Foi a 'primeira' vez que fui para outro estado (já viajei para SP, mas eu tinha uns 3 anos. Aí nem conta). É uma experiência única viajar para um lugar desconhecido, mesmo que seja por pouco tempo. Você cresce, passa ver os outros (e você) de forma diferente. Ainda mais se falando de uma cidade tão grande (puta merda! Grande pra caralho!).
Mas o que faz a cidade viver são as pessoas. E essas que me fazem esrever esse texto agora. A princípio, eu iria ver o show sozinho. Não fazia questão alguma de ir com uma galera, cachorro, papagaio, uma companhia, enfim. Mas, graças ao MSN e ao destruidor de casais (Orkut), conheci um pessoal que fez valer ainda mais minha ida pra São Paulo. É bonito ver que todos tem em comum a paixão por uma banda e o esforço de ver um show tão importante como foi esse.
Mas, do mesmo modo que cada um desses meus novos amigos se esforçaram para ter o ingresso em mãos, eles deram um jeito de reunir o máximo de conhecidos. Sol, sede, calor (dos infernos!), vontade de fazer xixi, raiva por não ter levado máquina fotográfica, esqueci isso tudo quando estava lá com essa galera. Passei a valorizá-los muito mais do que muita gente que estudou comigo e que vive aqui em minha cidade.
Distância é o que dizem que há quando se deixa esquecer o que se é importante. Tanto esse show, quanto esses momentos que passei rindo debaixo de um sol miserento, foram de igual alegria para mim. Tão importante quanto o show de sua vida, são os amigos que agora são sua vida também.

Obrigado!

domingo, 10 de fevereiro de 2008

2 Minutes to Midnight (tradução) - Iron Maiden


Iron Maiden - 2 minutes To Midnight


Matar pelo lucro ou atirar para mutilar
Mas nós não precisamos de uma razão
O Ganso Dourado está solto
E nunca fora de estação

Algum orgulho escurecido continua queimando
Desta casca de deslealdade sangrenta
Aqui está minha arma para um pouco de diversão
Pelo amor dos mortos vivos

A cria do assassino ou a semente do demônio
O glamour, a fortuna, o sofrimento
Ir para a guerra de novo,
O sangue é a mancha da liberdade
Mas nunca mais reze pela minha alma

2 minutos para a meia-noite
As mãos que amedrontam o destino
2 minutos para a meia-noite
Para matar no útero o não-nascido

Os cegos gritam, deixam as criaturas sairem
Nós mostraremos aos descrentes
Os gritos de napalm de tochas humanas
Numa festa de primeira ao estilo Belsen

Enquanto os responsáveis pela matança
Cortam sua carne e lambem o molho
Lubrificamos as mandíbulas da máquina de guerra
E a alimentamos com nossos bebês

Os sacos de corpos e pedaços
De crianças partidas ao meio
E a pasta de cérebros dos que viveram
Para apontar o dedo para você

Enquanto os loucos brincam com palavras
E nos fazem dançar a sua música
Gastando milhões para fazer
Um tipo melhor de arma

Meia-noite... a noite inteira...



quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Transgenia Social



De fato, ao menos um pedaço de pão serviria para matar a fome daquele pobre homem. Pouco importava se o trigo tinha teor extra de álcool ou vinha de pastos nascidos do desmatamento.

Mas ninguém se importava. O mendigo era a erva daninha da transgenia do sistema.



sábado, 12 de janeiro de 2008

Prelúdio

(Leia com a música. Espere carregar toda.)

A noite estava pesadamente escura. A 4ª Bachiana ressoava por todo o teatro. Todos os espectadores, trajados elegantemente, como o ambiente pedia, saíam satisfeitos. Era uma área high class, como muitos diziam lá. Ouviam-se saltos altos, celulares tocando, motoristas particulares chegando. Mas alguma coisa mantinha a Bachiana ressoante naquele lugar.

Havia um mendigo na porta do teatro. Encolhido, pois o vento era muito forte. Era um período de chuva. Os espectadores comentavam sobre a beleza que eram as peças de Vila-Lobos. “Dava orgulho de ser brasileiro, ao ouvi-lo”; era o que alguns diziam, resumindo o pensamento de todos que estavam no teatro. O mendigo continuava lá fora. Não poderia compartilhar da mesma opinião. A fome e a falta de panos não o deixaram ouvir a orquestra. Ouvia apenas a indiferença que saia dos espectadores. Gestos, falas, sorrisos que não eram para o pedinte. A Bachiana era tão bela...

O vento ficava cada vez mais forte. O tempo, mais fechado. Guardas-chuva se abrem. O mendigo se encolhe, olhando para os lados. Não há lugar para se proteger. Ele levanta. Receoso, tentando se cobrir com o pouco de pano e papelão que tinha em mãos, se aproxima da entrada principal do teatro. Tenta conseguir pelo menos alguns papelões a mais ou um espacinho no teatro até passar a chuva. Os espectadores se entreolham. Torcem bocas e olhares, aumentando o frio no homem estranho que aparecera. Um segurança, ainda se aproximando, gesticula para o mendigo se afastar. Ali não era lugar para ele. O farrapo nem ao menos se explicar conseguiu. Empurrado e abatido, volta para a rua.

A chuva ficou mais forte. Começava a respingar nos espectadores que estavam na porta do teatro. Eles entraram para se proteger, apesar do concerto já ter acabado. Só um homem estava lá fora. Não dava pra ver o rosto dele. A chuva era mais forte. Devia haver lágrimas marcando o compasso da Bachiana, mas ninguém ouvia. Talvez a Bachiana do mendigo não precisasse mais de choros. A sua regência era eterna. Os espectadores continuavam a conversar e a elogiar o espetáculo. “Como um homem inseria tanta brasilidade na música erudita? Era esplendoroso!”. Eles só pensavam na Bachiana.

O mendigo, ainda na porta, olhou novamente para os lados na esperança de achar um abrigo. Seu papelão e sua roupa já estavam ensopados. Ele começava a se tremer. O frio aumentara, assim como o vento. Voltou-se para o teatro. Alguns espectadores olhavam, talvez mais preocupados com seus motoristas que demoravam a chegar. Alguns até comentavam sobre o mendigo. O homem da rua, que não sabia mais para onde olhar (sua cabeça estava abaixada), ergue suas mãos tremidas pelo frio até o peito e as junta. Após isso, ele vagarosamente se ajoelha. Não havia mais para onde olhar. O céu estava fechado. E o chão escondia sua vergonha.

Os espectadores se espantam. Não se ouve mais elogios. Nem a chuva era ouvida. Apenas um choro regendo um prelúdio. Prelúdio este que não acabava. Ecoava em cada dia desse homem ajoelhado, mesmo sem ele nunca ter pisado em um teatro.

O prelúdio ganha um novo regente. Não há gestos graciosos de um maestro, mas sim duas mãos trêmulas, unidas e encostadas ao peito. Os espectadores começaram a ouvir, de verdade, a Bachiana. Lágrimas acompanhavam a sinfonia ouvida por aqueles que o teatro sempre deixara de fora. A Bachiana era muito mais conhecida para o mendigo do que para os espectadores. Ela o tocou primeiro. E ele não quis ouvi-la. Era ele o maestro, agora, e os espectadores sentiam a triste regência escorrer entre gotas de chuva e lágrimas. As súplicas que nunca foram ouvidas, as moedas que nunca foram dadas, um espaço não cedido para que a chuva não o molhasse, lágrimas que nem com a força dos céus conseguiam ser ouvidas. Agora a Bachiana fazia com que aqueles que estavam dentro do teatro ouvissem o maestro. Ouvissem suas lágrimas.

Mas, ainda assim, os espectadores continuavam dentro do teatro, e o mendigo, fora. Alguns saíam pelos fundos do teatro, outros passavam pela escada que o mendigo se encontrava. O segurança não tinha mais coragem de tirá-lo de lá. Ninguém tinha coragem de, ao menos, olhar para ele. A chuva escorreu a dignidade de todos. A chuva escondia o rosto de todos. O maestro conseguiu comover sua platéia. Mas as palmas não vieram. Todos olhavam para baixo. O prelúdio se eternizou.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Metáforas


Paredes que protegem
e isolam.
A difícil linguagem:
a voz que cala e que mascara
a alma.

Muros de ouro...
Essa não é minha voz.

Talvez mostrem algo que eu tenho,
mas não o suficiente.
Mostram sua beleza
e me trancafiam aqui.

Seria a morte da poesia
se a voz de quem está cercado
fosse ouvida.

Não haveria mais prisão,
dor,
Solidão...

É uma fênix que nasce das
cinzas.
Cinzas caladas e solitárias.

Nada se aproveita do pó.
Resto do fogo da paixão,
esperança,
alegria
e de tudo aquilo que fez construir
os muros.

Estes ainda protegem o corpo
inútil.
O resto abandonado que malmente
agoniza.

Nada mais restou.
E quem era para receber
o tanto ouro dos muros
não viu sequer uma brita.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Fortunas da Guerra




Marcha,
Tropas,
Armas,
Mentes.

Lágrimas,
Lembranças,
Medo,
Ordens,
Destino.

Fogo,
Neblina.

O ponto final da razão.
O céu se fecha.
O fogo engole almas,
casas, palavras,
Crianças.

A chuva cai.
Sangue cai.
Bombas caem.
Corpos caem.

Os tiros não param:
matam um pai com dois filhos,
matam um médico que queria salvar vidas,
uma senhora que carregava sua filha,
morta
por um tiro que o céu, aos prantos, não viu.

Os tiros acertam cabeças mortas.
Os tiros saem de cabeças mortas.
A guerra nasce de cabeças mortas.

Nada pensam.
Trocam o pente,
apenas apertam o gatilho,
tiram o pino,
matam um filho,
explodem um abrigo.

Fogo, fumaça, sangue,
tudo se mistura.
Vira cinza.

Cinzas...

A fênix não ressuscitou.

A esperança resolveu ser do contra:
morreu com os tiros do 1° pelotão.

O amor morreu abraçado com uma criança que queria ser herói.

Na guerra,
Generais viram estátuas.
Heróis...

Os homens não amam os inimigos.
Porque são inimigos?
Inimigos choram?
Crianças são inimigos?
Doentes são inimigos?

Não se ouve a resposta.
Os tiros não deixam.
E quem poderia responder
já deve ter morrido.

As mãos se apertam em armas,
Os abraços são em mortos.
Os sorrisos são para alvos acertados.

A mãe morta,
arrastada até um escombro.
Bombas,
tiros,
nada se ouve.
O filho vê uma arma.
Um cadáver de um soldado.
Outro.

Raiva,
Arma,
Mãos,
Mãe,
Morta,
Tiros,
Morto,
Filho.

Tropas,
Marcha,
Avanços,

Vitória...