Lembrei daquela sala de aula com uma cadeira ao lado da janela que servia para me recordar das coisas a cada aula chata. A sala vazia, tão costumeira quando se chega cedo demais no colégio, agora tomou vida. Aquela antiga sala não era vazia. Por mais que chegasse cedo (encontrando a sala fechada e sem ar condicionado ligado), ela não estava vazia. Havia uma infinidade de momentos nela. Para cada azulejo, para cada cadeira e para cada resto de giz no chão, havia uma história. Havia vida em tudo naquela sala. Com o passar dos minutos, a sala ia ganhando pessoas. Era como se cada um ganhasse mais vida ao entrar naquela sala. Os lugares vazios possuíam uma vida própria, assim como as pessoas, claro. Mas da união desses nascia uma entidade, que se guarda por todo o tempo. Antes, a sala só era gigante apenas para alguém que ia apresentar algum trabalho para toda a turma. Mas agora ela é muito maior. As lembranças estendem até um ponto que olhos não enxergam. Vêm pessoas, cadeiras, janelas, tudo isso numa confusão de imagens. Confusão é olhar outras salas agora. Espaços vazios. Completamente vazios. As pessoas parecem desencarnadas dessas novas salas. Também estou aqui. Essa sala pode sim ter vida, mas não vejo isso. Deixei a alma naquela outra sala, de cadeiras azuis, com uma janela que me distraia quando o quadro me cansava. Agora, o que me sobra é olhar uma outra janela (na sala que estou há uma janela, mas não aquela) e tentar ver o que eu via na minha antiga sala. Na janela não há vida. Muito menos nas pessoas. Apenas estão aqui. Não vivem aqui. Talvez elas não queiram. Ou sou eu quem não quer viver nessa sala. Minha sala antiga era parte de minha vida. Agora sua porta se fechou. Não posso entrar mais nela. Mas ainda vejo o que aquela velha sala me trouxe pela sua janela.