quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Da série 'Alex Pitta Produções'
Mais vídeos em 'Minhas Produções (Vídeos no YouTube)', no canto direito do blog.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
domingo, 28 de outubro de 2007
In Terrae Memoriam
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Por Não Poder Ser
Estáticos.
mudos,
frios,
duros.
Chuva,
Vento,
Pombos.
O externo nos move.
A alma resseca na sua neve.
As vontades se endurecem
No gelo do cimento.
A vida é repetição.
Estática.
Assiste ao mundo.
Só se vê um quadro
estático.
A mudança vem de fora.
A alma congelou.
O vento derruba a estátua
que se parte
junto com a alma.
domingo, 26 de agosto de 2007
'Pátria amada,... América!'
Amerika (tradução)
Rammstein
Nós todos estamos vivendo na América,
América é maravilhosa
Nós todos estamos vivendo na América,
América, América
Quando há uma dança, eu quero conduzir
Mesmo que você esteja rodopiando sozinho
Deixem-se ser controlados um pouco
Eu mostrarei como é
Nós estamos fazendo uma dança de roda legal
Liberdade está tocando em todos os violinos
Música está vindo da Casa Branca
E Mickey Mouse está parado em frente à Paris
Nós todos estamos vivendo na América,
América é maravilhosa
Nós todos estamos vivendo na América,
América, América
Eu conheço passos que são muito úteis
E eu te protegerei de seus tropeços
E quem quer que seja que não dance até o fim
Ainda não sabe que eles devem fazer isso
Nós estamos fazendo uma dança de roda legal
Eu vou te mostrar o caminho
Papai Noel está vindo para a África
E Mickey Mouse está parado em frente à Paris
Nós todos estamos vivendo na América,
América é maravilhosa
Nós todos estamos vivendo na América,
América, América
Nós todos estamos vivendo na América,
Coca-Cola, sutiã
Nós todos estamos vivendo na América,
América, América
Esta não é uma canção romântica
Esta não é uma canção romântica
Eu não canto na minha lingua materna
Não, esta não é uma canção romântica
Nós todos estamos vivendo na América,
América é maravilhosa
Nós todos estamos vivendo na América,
América, América
Nós todos estamos vivendo na América,
Coca-Cola, algumas vezes guerra
Nós todos estamos vivendo na América,
América, América
sexta-feira, 20 de julho de 2007
PROJETO DE LEI Nº 666, DE 20 DE JULHO DE 2007
PROJETO DE LEI Nº 666, DE 20 DE JULHO DE 2007
Artigo 1º
A partir de 1º de Janeiro de 2008, o Estado da Bahia passará a ser chamado de Estado de ACM. Todos os livros didáticos, mapas e cartas geográficas adotados no Estado de ACM deverão ser modificados até a data assinalada neste artigo. Será modificado também o nome da Baía de Todos os Santos, que passará a ser chamada de Baía de Santo ACM.
Artigo 2º
Todo cidadão do Estado de ACM, a partir da data de publicação desse decreto, terá que registrar seu nome com 'Magalhães' ao final do mesmo. O descumprimento dessa lei será considerado crime de traição à Nação de ACM, sendo punido com morte por enforcamento, realizado no Memorial Luis Eduardo Magalhães.
Artigo 3º
O Hino do Senhor do Bonfim, a partir de 2 de Julho de 2008, terá seu nome modificado para Hino do Estado de ACM. Sua execução se tornará obrigatória em todos os estabelecimentos educacionais, públicos ou privados, antes de se iniciar as atividades nesses estabelecimentos. A não execução do Hino terá como punição o fechamento da instituição e o enforcamento, realizado no Memorial Luis Eduardo Magalhães, dos seus professores.
Artigo 4º
A partir de 1º de Janeiro de 2008, o nome do Senador Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, assim como da divindade judaica YHWH , não poderá ser mais pronunciado por nenhum habitante do Estado de ACM. Apenas a sua sigla (ACM) poderá ser falada, escrita ou divulgada. O não cumprimento será considerado crime de heresia, punido com a excomungação.
Artigo 5º
A partir do período de carnaval de Salvador de 2008, será realizado 1 (um) minuto de silêncio antes da saída do primeiro trio elétrico do dia. Para blocos que possuem um grande número de turistas e, conseqüentemente, movimentam um grande número de dinheiro, suas respectivas bandas tocarão o hino do Estado de ACM no meio de cada percurso.
Artigo 6º
Em todas as fitas do Senhor do Bonfim e nos vestidos das baianas de acarajé, será estampado o rosto de ACM.
Artigo 7º
A parir do dia 20 de Julho de 2008, será decretado feriado estadual no Estado de ACM. Nenhum bar, restaurante ou estabelecimento de lazer poderá ser aberto nesta data, no intuito de fazer como que os cidadãos de ACM reflitam sobre a importância do seu senador-santo-mor. O descumprimento desse artigo será considerado heresia, com a excomungação e multa para os donos desses estabelecimentos e clientes.
Artigo 8º
A partir de 1º de Janeiro de 2008, nenhum partido político de oposição à ideologia de ACM poderá indicar candidatos às eleições municipais e estaduais. A partir desta data, o Estado de ACM terá um sistema monárquico absoluto, em que os legítimos Magalhães (aqueles que possuem parentesco direto com ACM) reinarão em prol do bem maior do povo de ACM.
Artigo 9º
A partir do dia 1ºde Janeiro de 2008, a estátua de Castro Alves, localizada na avenida Carlos Gomes, será substituída por uma estátua de ACM.
Artigo 10º
Todo cidadão do Estado de ACM deverá rezar 3 (três) vezes ao dia, posicionado na direção da estátua de ACM, localizada na Carlos Gomes. E todo cidadão brasileiro deverá ir, pelo menos 1 (uma) vez na vida, ao Estado de ACM, para rezar em direção à estátua, participar do carnaval da cidade de Salvador e comer um número mínimo de 5 acarajés. A não realização dessas ações será considerada crime de heresia, punida com a excomungação.
Salvador, 20 de Julho de 2007
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Frio
Teve vontade de se encolher. Levantou os braços até o peito e se abraçou. Passou por algumas pessoas abrigadas em uma loja de sapatos. Parou em frente a uma vitrine. Sapatos bonitos, novos. E o seu era barro. Ficou um bom tempo a olhar a vitrine. Nenhum vendedor se aproximou. Luis não tinha bem uma cara de cliente. Os sapatos atrás da vitrine. Novos. Luis baixou a vista e olhou os seus. Continuou baixo e olhando, sem saber.
Voltou a andar pela rua. Trombando com guardas-chuva, Luis apenas olhava seus sapatos. Pensava se podia ao menos comprar um outro guarda-chuva. Não resolveria? O frio continuaria, mas as gotas deixariam de crucificá-lo. – Não sei. Os passos se seguiram. O vento alimentava o frio. O abraço há muito deixou de aquecer.
Luis pára. A rua, sempre vazia, agora está desabitada. Ele olha para o céu. Olha as gotas caindo como flechas diretamente em seus olhos. A lama não saía do sapato, apesar da chuva. A rua. Luis puxa um envelope de seu bolso, abre e o relê. ...se você ao menos me sentisse. Uma gota caia em Luis. O frio aumentava ainda mais. A gota escorre o seu rosto, descendo até o papel. Ele queria voltar. O frio não deixava. Luis ouve um barulho em um toldo que cobria a frente de um prédio. Havia um mendigo que, ao vê-lo, pôs a se levantar. O frio aumentava. Luis ficou atento ao homem que se dirigia a ele com um guarda-chuva bem velho, pelo tanto de furos que tinha nele. Mas protegia das gotas na cabeça. Chegando bem próximo a Luis, o homem nada mais fez do que lhe entregar o guarda-chuva. Assim que entregou, o mendigo se virou e voltou para a sua casa.
Luis tentou se esconder do seu pânico, mas o guarda-chuva estava em suas mãos. Ele olhava o mendigo atentamente. O homem havia se deitado, cobrindo-se com um pano velho que mal dava para se aquecer. - Ele esteve sempre ali? Uma gota atravessa o guarda-chuva. ...se você ao menos me sentisse. As mãos de Luis tremiam descontroladamente. O frio estava insuportável. – Quero minha casa. Mas olhou pro mendigo de novo. O guarda-chuva se rasgou. As gotas são intermináveis. Luis volta a ler a carta. Um vento súbito e forte afronta Luis. A carta faz algumas danças no céu e cai em seus sapatos. Ainda na esperança de que a carta não se suje, Luis a pega num gesto rápido. Mas ela já estava em seus sapatos. E a lama apagou toda a tinta.
*o nome da personagem não tem relação alguma com a vida de conhecidos meus.
sábado, 9 de junho de 2007
As Formigas
Lá se vão as formigas.
Seguem mudas e cegas
o seu caminho.
Enfileiradas, as formigas
trabalham.
Sem contas, sem carros,
sem problemas.
Apenas buscam comida.
em fileiras, seguem em
silêncio.
Constroem colônias,
catam folhas,
acham comida,
juntas.
Matamos as formigas
que mexem na
nossa comida.
Formigas atrapalham.
Em grupo, buscamos o primeiro inseticida que vemos.
Em grupo mexem
em nosso lixo,
na comida do cão,
no pão dormido,
e assim vão mexendo em tudo...
Se uma formiga
corre perdida na mesa,
matamos com um dedo.
Mesmo com uma morta,
as formigas seguem.
Trabalho silencioso,
em grupo.
Inseticidas não funcionam.
Ninguém sabe onde fica a
Colônia.
Também pouco importa:
são formigas.
sábado, 2 de junho de 2007
Alucinação
Meus pés presos ao chão.
Apenas olho o céu.
Não vôo.
O chão vira gelo.
O frio me faz sentir dor.
Sou fraco?
O céu chama.
O sol derrete o cimento,
mas afundo nele.
Não há vôo.
Alguns voam felizes.
Olhos queimados
deixaram de ver.
Os que caem,
morrem.
O chão é duro.
Mesmo que agora
minhas asas batam,
estou mergulhado.
E o sol está secando
o cimento.
sábado, 19 de maio de 2007
sábado, 12 de maio de 2007
Não Aprendi a Dizer Sentimentos
Aprendi a amar.
Mas meu ‘eu te amo’ é mudo.
Os que esperam
(e teimam em querer)
ouvir
é porque realmente não merecem.
Para quem me importa
O tempo é quem fala.
Para esses
O silêncio é a melhor resposta.
Sentimentos não cabem em letras.
Eles precisam de
abraços,
risos,
choros,
saudades:
o que me faz dizer de verdade
o que sinto.
domingo, 6 de maio de 2007
Re(e)volução em Erma
O mar
se perdeu nos barcos de
7 chaminés.
A sinfonia perdeu
as cordas e os sopros.
Os robôs regem
uma sinfonia.
Contra-tempos,
confusão,
a luz do sol
entrou nas chaminés.
A última ave
voou
para dentro de um catálogo.
As flores nascem cinzas.
O ATGC
virou polímero.
Funções,
botões,
dão aos robôs
água preta.
As árvores crescem
em laboratório.
As árvores ainda
vivem?
Alguns Homens ainda
não venderam
as almas.
(é um software muito valioso)
Eles ainda olham as árvores.
Eles não correm.
Eles olham outros,
que um dia conheceram o mar.
Eles viram uma vez
o sorriso.
A fome não existe.
Pílulas de proteínas
para encher um
Espantalho
Orgânico.
Mas as árvores
destroem o laboratório.
(mas eles vendem bem as comidas de cartela)
O sopro divino
dos catalisadores.
Agora o homem
evoluiu.
Fez num béquer
o homem.
(já não o teria feito?)
O homem nasceu?
E os outros?
O que eram?
Há Homens nas calçadas.
Homens de verdade!
Até dor sentem!
(e as comidas de farmácia?)
Mas as árvores explodem o laboratório!
As calçadas
vêem
o grande verde.
Levantem!
Os robôs param.
Serras são ligadas:
Cortem as árvores!
Mas o laboratório explodiu!
As aves voam dos quadros.
Pegam fogo
e voam para os Homens.
Chuva.
O céu lava os Homens.
Batismo.
Agora vivem!
Os robôs se debatem.
Tentam queimar as árvores.
Tilt.
A chuva é forte.
O mar cresce,
inunda tudo.
Um novo dilúvio.
Os Homens vêem
o mar.
Todos.
As aves,
com suas asas flamejantes,
mostram o mundo
aos Homens.
Tudo inundado.
A chuva pára.
O Céu se abre
com a cor do mar.
O sol eleva as terras
Os homens pisam as terras
marrom são as terras.
Árvores e mais árvores!
Gigantes!
As aves cantam!
Os Homens não correm
mais.
Olham ao redor
tudo.
Agora vêem
o sorriso.
domingo, 29 de abril de 2007
Navegando em Vida
A rede pesca a vida nesse mar azul.
Mar da cor do céu:
minha liberdade.
Cercado pelo nada
que me faz viver.
As coisas da terra,
cheias de vermelho,
rasgam minha rede.
O que pesco
me alimenta.
O mar é minha casa:
comida e paz.
Ouço vozes daqui do mar.
vozes tristes da terra.
A maré vermelha
há muito tempo
tomou a terra.
Lá não pesco nada.
Lá as cores não existem.
O cinza se mistura ao
vermelho.
O povo nada nessas cores.
Aqui eu consigo ver o céu
se fundir ao mar.
Aqui Deus está junto aos homens
e faz minha rede encher
de Vida.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
6:45
Lembrei daquela sala de aula com uma cadeira ao lado da janela que servia para me recordar das coisas a cada aula chata. A sala vazia, tão costumeira quando se chega cedo demais no colégio, agora tomou vida. Aquela antiga sala não era vazia. Por mais que chegasse cedo (encontrando a sala fechada e sem ar condicionado ligado), ela não estava vazia. Havia uma infinidade de momentos nela. Para cada azulejo, para cada cadeira e para cada resto de giz no chão, havia uma história. Havia vida em tudo naquela sala. Com o passar dos minutos, a sala ia ganhando pessoas. Era como se cada um ganhasse mais vida ao entrar naquela sala. Os lugares vazios possuíam uma vida própria, assim como as pessoas, claro. Mas da união desses nascia uma entidade, que se guarda por todo o tempo. Antes, a sala só era gigante apenas para alguém que ia apresentar algum trabalho para toda a turma. Mas agora ela é muito maior. As lembranças estendem até um ponto que olhos não enxergam. Vêm pessoas, cadeiras, janelas, tudo isso numa confusão de imagens. Confusão é olhar outras salas agora. Espaços vazios. Completamente vazios. As pessoas parecem desencarnadas dessas novas salas. Também estou aqui. Essa sala pode sim ter vida, mas não vejo isso. Deixei a alma naquela outra sala, de cadeiras azuis, com uma janela que me distraia quando o quadro me cansava. Agora, o que me sobra é olhar uma outra janela (na sala que estou há uma janela, mas não aquela) e tentar ver o que eu via na minha antiga sala. Na janela não há vida. Muito menos nas pessoas. Apenas estão aqui. Não vivem aqui. Talvez elas não queiram. Ou sou eu quem não quer viver nessa sala. Minha sala antiga era parte de minha vida. Agora sua porta se fechou. Não posso entrar mais nela. Mas ainda vejo o que aquela velha sala me trouxe pela sua janela.
segunda-feira, 9 de abril de 2007
Elo de Vidas
A infinidade num breve momento.
Vidas que se unem
ou se afastam.
Mas não se separam
com o afastar dos corpos.
As almas se entrelaçam
e se fundem.
E dessa mistura se voltam aos corpos.
Sempre abraçadas, as almas se afastam.
As almas jamais se soltam.
A distância não rompe esse elo.
a distância fortalece
E machuca.
A dor de querer unir novamente os corpos
mesmo que, unidas, as almas fiquem sempre.
A dor de olhar sua alma
e ver outras.
Unidas.
Juntas,
E distantes.
Mas as almas, sempre ligadas
manterão vivas
as vidas que passaram juntas,
podendo um dia
trazer os corpos de volta
e religá-los com um abraço.
quarta-feira, 4 de abril de 2007
Tradução de 'Age Of Innocence', do Iron Maiden
Idade da Inocência
Eu não posso mais comprometer-me
Com meus pensamentos
Eu não posso evitar os tempos
Minha raiva preenche meu coração
Eu não posso compreender
Uma nova causa perdida
Eu sinto que perdi minha paciência
Com o mundo e tudo mais
E todos os políticos
E suas promessas vazias
E todas as mentiras, enganações
E vergonha que vêm com elas
O homem trabalhador
Paga pelos erros deles
E também com sua vida
Se acontecer uma guerra
Então nós só temos uma chance
Podemos aceitá-la?
E nós só temos uma vida
Não podemos trocá-la
Podemos nos agarrar ao que temos?
Não substitua
A idade da inocência está desaparecendo
Como um velho sonho
Uma vida de crimes insignificantes
É punida com um feriado
A mente da vítima é traumatizada
Por toda a vida quase todos os dias
Assaltantes sabem exatamente
O quão mais longe isso pode ir
Eles sabem que as leis são flexíveis
São poucas as chances de culpabilidade
Vocês não podem se proteger
Nem mesmo em suas próprias casas
Pelo medo do choro dos vigilantes
As vítimas enxugam seus olhos
Então agora os criminosos
Eles lançam bem na nossa cara
O sistema judicial os deixa fazer isto,
Uma desgraça
Preocupações públicas desesperadas
Onde tudo isso vai acabar
Nós não podemos nos proteger
Nossos filhos da tendência do crime
Não podemos nem avisar uns aos outros
Do mal em nosso meio
Eles têm mais direitos que nós
Você não pode chamar isto de justo
quinta-feira, 29 de março de 2007
Personificação
Não force a caneta.
A tinta não sai no papel rasgado.
A caneta tem de passear.
Voar nas letras,
Mergulhar nas almas,
Rasgar os silêncios,
Ouvir os mudos.
Não use tinta vermelha.
Ela corta as asas
E apodrece as árvores.
Não amarre a poesia.
Pássaros sem asas
Ainda querem voar.
Não espere
O beijo do papel.
A tinta pode estar fraca.
Mas sua alma é fosforescente.
Dá-lhe vida!
A vida não se faz
Com amarras.
A tinta não acaba.
Mas o vermelho
Seca.
sexta-feira, 16 de março de 2007
Um Outro Dia
Era uma pontualidade de um relógio. Seu Pereira subia com seus passos lentos e distraídos a ladeira da Athayde toda quarta, sempre às 18 horas. Subia com uma bicicleta azul, com super-heróis desenhados e uma pequena bola de futebol decorando o guidão. Apesar de a ladeira ser um pouco longa, Seu Pereira subia sorridente. Já era um senhor de idade. Era costume alguns velhos ficarem na praça conversando ou jogando dominó. Mas Seu Pereira subia apenas para ficar empurrando a bicicleta. Poucos entendiam aquele lazer tão excêntrico do Pereira. Já deveria estar doido, pela idade. Só que ninguém olhava para a cara dele. Ninguém via o sorriso dele quando começava a equilibrar a pequena bicicleta sem que as rodinhas de apoio tocassem no chão. Às vezes ele parava e ficava olhando a bicicleta durante um bom tempo.
Alguns já chegaram a perguntar a Seu Pereira o porquê dessa atividade. Ele sempre dizia que era para lembrar do filho, um médico muito famoso que vivia viajando para ajudar as pessoas. Era um moço bonito, alto, inteligente e prestativo. O filho sempre se lembrava dele. Ligava toda hora, mesmo quando estava em outros países. Era um garoto de ouro! Seu Pereira tinha brilhos nos olhos quando falava de seu tão querido filho. Sabia que ia encontrar ele no dia seguinte, pois era seu aniversário. O filho fazia questão de ir comemorar na casa de seus pais. Devia tudo a eles.
Tempos atrás, Seu Pereira tinha muito medo de perder seu filho. Vivia numa rua violenta. O garoto era inocente. Ia pra rua jogar bola e nem nunca pensava em alguma coisa ruim acontecer. Antes que acontecesse alguma coisa, o Pereira resolveu se mudar para a Athayde, onde o garoto passou o resto da infância e adolescência brincando alegremente pelas ruas. Nada de tiros ou gente correndo pelos becos.
Tinha muito orgulho do seu filho. Mesmo sendo um garoto ocupado, sempre dava uma passadinha no posto de saúde do bairro para ajudar os moradores. Era sempre nos dias que não tinha médico. Seu filho achava um absurdo isso. Posto sem médico?! Paciente tem que escolher dia pra ficar doente, é?
Graças ao garoto, o posto não mais fechava nos dias de quarta e quinta feira, como era de costume. Na primeira vez que o garoto entrou no posto de saúde para fazer seu trabalho voluntário, ele atendeu uma mulher em trabalho de parto. Era a primeira paciente dele. Uma criança saudável nasceu. Numa quarta feira.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Desisto
de tentar confortar no
impossível
a dor da dança-sem-par.
Olhar mundos de amores
desabrocharem
e ver a terra rachada em
meu jardim.
Ver o tempo passar
com a chuva.
E para alguns
o Sol é
eterno...
Me acostumei com a chuva?
Não queria...
O mundo não quer.
Ele não cansa de mostrar
o que cansei de ver.
Esperança?
Ainda há.
Por isso que ainda vejo.
Mas não me iludo
mais.
Danço só ao som
da chuva.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007
Tradução de "Bravado", do Rush
Se nós queimarmos nossas asas
Voando muito perto do sol
Se o momento de glória
Está acabado antes de ter começado
Se o sonho é vencido -
E apesar de tudo estar perdido
Nós pagaremos o preço,
Mas não contaremos o custo
Quando a poeira baixou
E a vitória foi negada
Uma subida muito íngreme
Um rio um pouco vasto demais
Se nós mantivermos o nosso orgulho -
E embora o paraíso esteja perdido
Nós pagaremos o preço
Mas não contaremos o custo
E se a música parar
Só restará o som da chuva
Toda a esperança e glória
Todo o sacrifício em vão
E se o amor remanescer
Mesmo tudo estando perdido
Nós pagaremos o preço
Mas não contaremos o custo
sábado, 10 de fevereiro de 2007
Sombra.
Tudo escuro.
Se há alguém ao meu lado,
Que grite agora,
Por favor!
Vejo apenas a dança
de casais cegos e surdos.
Carrossel de luzes
que apenas vejo de longe.
Tento achar um par...
A sombra é mais forte.
Dançam no silêncio.
A luz não deixa que eles me vejam.
Melhor assim.
Melhor seria que eu não os vissem também...
Havia algumas que me viam
solitário.
Pensei que chegariam perto.
Mas sempre arranjam um outro par.
A luz não chega até aqui.
A sombra não deixa que eu saia daqui.
Não quero continuar assim.
A sombra não me deixa enxergar
quem está perto.
Se há alguém ao meu lado.
Que grite agora,
Por favor!
Por favor...
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
Fim do Dia
Saí às 17:30 do trabalho e fui, indicado por Barriga, meu funcionário, numa oficina pra dar uma olhada num barulho insuportável em meu carro. Uma rua quase vazia. 2 mendigos, um vendedor de balas que acabou de descer do ônibus no fim de linha, dois cachorros, prédios e casas velhas. Lugar estranho esse, mas era melhor do que pagar três vezes mais numa dessas oficinas com cafezinho, biscoitos e sala de espera. Qualquer barzinho é melhor que isso. E, além disso, Barriga me garantiu que o mecânico era bom e que ia fazer um preço camarada. Mas só via prédios e casas. Nada mais. Desliguei o carro e saí pra pedir informação à alguém. Agora é achar esse alguém.
Tinha um garoto chutando bola num gol pintado numa parede. Chamei-o. Ele olhou meio desconfiado, porque ele tá me chamando? Com uma cara de dúvida, ele veio falar comigo.
- Boa tarde, garoto! Você sabe se tem alguma oficina aqui por perto?
- Senhor, a oficina é na rua anterior. Mas o senhor vai consertar esse carrão lá?!
- (rindo) Na verdade eu vim aqui porque um funcionário meu me indicou.
- Ah! O Seu Farias é bom mesmo! Meu pai vive falando dele.
O garoto falou sobre seu pai, e acabei notando uma coisa: olhando pra ele, ele me lembra alguém. Neguinho, baixinho voz anasalada e fala corrida. Lembrava muito o... Barriga! É! Pode ser mesmo filho dele. Só falta ser apressado que nem o pai.
-Por acaso seu pai se chama Pereira?
-Sim! Mas ninguém chama ele assim. Só chamam ele de Barriga.
-Hmmm... E você, garoto? Estuda?
- Sim! Estudo bastante porque um dia eu quero ser médico!
O Barriga já tinha comentado desse sonho do filho dele. Barriga era o pai mais orgulhoso de toda minha empresa! Via o brilho nos olhos de Barriga, quando ele falava como seu filho era bom na escola e atencioso com as pessoas. Agora vejo esse brilho nos olhos do garoto, dizendo que um dia quer ser médico.
-Que legal! Mas porque você quer ser médico?
-Ah... (olhou pro mendigo que agora procurava comida num lixo num beco). Queria ajudar o pessoal aqui. Médico só aparece aqui terça e quinta feira.
-Mas você não quer sair daqui não?
-Não sei (olhando pro meu carro e de novo pro mendigo). Se eu sair daqui não vou poder ajudar ninguém aqui. Só se eu levar todo mundo pra minha casa. Aí seria bem legal!
Conversei mais um tempinho com o garoto e lembrei que nem tinha passado no mecânico ainda! Teria que continuar a conversa com o Barriguinha depois. Vixi! Esqueci de perguntar o nome dele!
-Ô garoto, qual é o seu nome?
-Meu nome é Jesus, senhor.
-Hmmm... Nome bonito! Tem como você chamar o mecânico pra mim, Jesus?
-Sim! Sim! Peraê!
Na hora que ele acabou de falar eu peguei minha carteira pra dar uns trocados a ele, mas ele saiu correndo. Seria melhor dar logo o dinheiro pra ele não precisar voltar aqui.
- Ei! Garoto! Volte aqui!
Ele não ouviu, mas dois policiais que tinham acabado de descer de um ônibus ouviram meu grito, e mandaram o garoto parar. Ele não ouviu de novo. Jesus entrou no mesmo beco que vira o mendigo e tentou pular o muro, pra cortar caminho. Um dos policiais atirou nas costas de Jesus. Gritei! Porque atiraram nele?! Simplesmente disseram: Ele te assaltou. Antes de pensar em qualquer coisa, peguei o garoto e, tentando tapar a feria pra diminuir o sangramento com minha camisa, fui pra meu carro, perguntando ao policial onde ficava o posto; perto da oficina, do outro lado da rua, disse o guarda. Manobrei o carro e, com a voz tremida, o garoto perguntou:
- Senhor... Você é... Médico?
- Não! Não sou, mas vou te levar para o posto! Agüente firme!
- Não precisa... Hoje é quarta-feira... Só tem os seguranças... Lá...
E, com a voz cada vez mais fraca, Jesus disse:
-O senhor é... gente boa... vou levar pra... morar... Comigo...
Depois disso, Jesus fechou os olhos. Sua respiração parou. Realmente, no posto só havia seguranças...